Ter uma escuta clínica viva vai muito além de seguir protocolos e manter a agenda organizada. Na prática cotidiana do consultório, muitos psicoterapeutas funcionam bem por fora, mas estão emocionalmente desligados por dentro. E quando isso acontece, a escuta perde força, a rotina se torna estéril e o trabalho terapêutico perde sentido.
Esse é o ponto de partida do filme Hector e a Procura da Felicidade, uma metáfora poderosa para quem vive de atender, escutar e acolher. A história de Hector, um psiquiatra aparentemente bem-sucedido, nos convida a refletir: você está viva para sustentar a escuta que oferece aos seus pacientes?
Hector leva uma vida organizada: tem um consultório estruturado, uma relação estável com sua companheira e uma rotina sem surpresas. Mas, apesar de tudo estar em ordem, ele se sente emocionalmente esvaziado.
Sua escuta clínica perdeu o brilho. Sua presença no atendimento se tornou automática. O trabalho, que antes fazia sentido, agora pesa.
A virada acontece quando ele perde a paciência com uma paciente que relata uma dor crônica e se irrita com outra que critica o valor das consultas. Esses momentos revelam algo profundo: o terapeuta também adoece quando deixa de cuidar da própria vida.
Sentindo-se exausto e desconectado, Hector parte em uma viagem ao redor do mundo. Visita diferentes culturas, conversa com pessoas comuns e pergunta: o que é felicidade para você?
Ele escuta com curiosidade, anota suas descobertas e, aos poucos, se reencontra com a própria vitalidade. O que ele buscava fora, estava dentro: a capacidade de se emocionar, de se abrir, de sentir.
Uma escuta clínica viva nasce justamente daí: da coragem de viver, de se expor ao novo, de permitir-se sair da repetição e resgatar a potência de estar presente.
Quantas vezes o consultório segue funcionando, mas o terapeuta já não vibra?
✔ Intervenções repetidas
✔ Presença protocolar
✔ Escuta superficial
✔ Agenda cheia, mas emocionalmente vazia
Esse distanciamento impacta diretamente o vínculo terapêutico, o engajamento do paciente e a própria satisfação profissional. Além disso, pode levar à desvalorização do próprio trabalho — inclusive financeira.
O que Hector descobre em sua jornada é simples, mas transformador: para escutar o outro com verdade, é preciso estar viva por dentro. Um consultório bem-sucedido não é feito só de estrutura ou planejamento, mas da presença inteira de quem atende.
A escuta terapêutica perde potência quando a terapeuta está no automático, sem repertório emocional, sem experiências novas, sem coragem de se reinventar. E recuperar essa vivacidade é, também, uma responsabilidade profissional.
o final do filme, Hector entende que a felicidade não estava fora, em nenhuma fórmula mágica. Ela estava em tudo o que ele já vivia, mas havia deixado de valorizar. Ao se reconectar com o amor, o sentido do trabalho e a própria capacidade de sentir, ele reencontra também o prazer em escutar.
E você, terapeuta?
Quando foi a última vez que se emocionou com um atendimento?
O que tem feito para manter sua escuta viva?
Você valoriza sua prática como ela merece?
Estar viva emocionalmente é uma condição para escutar com profundidade. Nós, terapeutas, somos o principal instrumento da nossa prática — e esse instrumento precisa de cuidado, de pausa, de movimento e de afinação.
Se a rotina está engolindo sua sensibilidade, é hora de mudar. A vida pede passagem, e sua escuta clínica depende disso.
Assista à palestra de Marcus Cézar Belmino, na sede do IGT – Instituto de Gestalt-Terapia e Atendimento Familiar. Sob a temática “O que é ouvir? Pensando a intervenção na clínica gestáltica.”
Referências
Chelsom, P. (Diretor). (2014). Hector e a procura da felicidade [Filme]. Egoli Tossell Film.
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